Biologia das Pragas: Com cerca de 150 mil espécies descritas em todo o mundo, os representantes de Diptera habitam quase todos os lugares. São caracterizados pelo tamanho reduzido das asas traseiras e pela proeminência das asas dianteiras. Distinguem-se dos outros insetos alados por possuir somente um par de asas, correspondente ao par anterior, transformando-se o par posterior em pequenas estruturas clavadas denominadas halteres, que funcionam como órgãos de equilíbrio.Larvas e adultos têm hábitos bastante variados, podendo se desenvolver tanto em meio aquático como terrestre, sendo que as larvas que vivem em meio terrestre se alimentam de matéria orgânica em decomposição, carcaças de animais mortos e excrementos. Já os adultos são geralmente terrestres e polífagos, ou seja, alimentam-se de inúmeras substâncias, podendo ser também hematófagos (somente as fêmeas). A maioria dos dípteros é de vida livre, porém existem espécies parasitas na forma adulta.
Ciclo de vida: São holometábolos (ovo, larva, pupa e adulto) e apresentam reprodução sexuada. Os ovos apresentam formatos variados e, quando em meio líquido, possuem estrutura especial para flutuação. As larvas geralmente são do tipo vermiforme e as pupas podem ser móveis ou imóveis. As descrições dos ciclos de vida de cada grupo serão detalhadas a diante.
Principais espécies de Moscas:
Mosca doméstica – Musca domestica: é a espécie mais conhecida, pode ser encontrada com maior ou menor frequência, no interior das residências, em quartos, cozinhas, estábulos, granjas, mercados, abatedouros, feiras livres, etc. É de grande interesse médico-sanitário e sua ocorrência, distribuição e predominância nas áreas metropolitanas são fatores de grande importância em saúde pública. A mosca doméstica pode transmitir agentes patogêncios, como vírus, rickétsias, protozoários, bactérias e ovos de helmintos. Age raramente como hospedeiro intermediário, porém quase sempre atua como transportador mecânico.
Sofre metamorfose completa, passando por 4 estágios de desenvolvimento: ovo, larva, pupa e adulto. Os ovos são deixados em locais escuros (estercos ou matéria orgânica em fermentação), em uma profundidade de 8 a 10 mm. São brancos, brilhantes, de forma alongada e depositados em massa. Cada fêmea pode depositar 120 ovos por postura, podendo haver até 6 posturas.
O total de ovos por fêmea varia de 400 a 900 durante toda a vida. Os ovos geralmente demoram de 8 a 24 horas para a eclosão das larvas. Estas, em condições favoráveis, completam seu desenvolvimento de 3 a 7 dias. No final do desenvolvimento abandonam o local e enterram-se no solo para a pupação. Nos últimos dias, as larvas deixam de alimentar-se, endurecem e formam o pupário, dentro do qual se encontra a verdadeira pupa. A fase pupal é de 3 a 6 dias. Logo após a emergência ou até 24 horas após, as fêmeas já copulam e ovopositam cerca de 2 a 20 dias depois. Uma mosca fêmea tem vida normal de 2 a 12 semanas, a longevidade média é de 30 dias.
Mosca dos estábulos – Stomoxys calcitrans: não costuma invadir residências e é encontrada, em grande número, em épocas quentes do ano, atacando animais domésticos. É frequentemente confundida com a mosca doméstica, mas se diferencia por apresentar uma probóscide preta brilhante, projetada horizontalmente na frente da cabeça. Possui uma distribuição quase cosmopolita. Ambos os sexos sugam sangue de bois, carneiros, cavalos, porcos, cães e até o homem.
Cria-se em alfafas, grãos ou farinhas úmidas que se encontram embaixo dos coxos, nos currais.Pilhas de grama cortadas em jardins constituem um bom material para a criação de larvas. Os ovos são depositados em forma de cachos. Cada fêmea produz até 632 ovos, podendo realizar 20 posturas durante a vida. O período de incubação varia de 2 a 5 dias. As larvas completam seu desenvolvimento em 14 a 26 dias e o período pupal varia de 6 a 26 dias. Os ovos começam a ser depositados 18 dias após o adulto emergir do pupário.
Seus ataques podem determinar a perda de sangue e redução de peso dos animais. Apresentam também importância na transmissão mecânica de doenças infectocontagiosas nos animais domésticos e ao homem, como: anemia infecciosa dos equinos, carbúnculo hepático e várias formas de tripanossomoses.
Falsa mosca dos estábulos – Muscina stabulans: cosmopolita, ocorre na Região Neotropical, desde o México até a Patagônia. Penetra em residências e faz postura em alimentos.
Mosca dos chifres – Haematobia irritans: ocorre em todos os estados brasileiros. É semelhante à mosca doméstica, mas de apenas 4 mm de comprimento. Seu principal hospedeiro é o gado bovino. É rara em residências.
Pequena mosca doméstica – Fannia canicularis: a importância epidemiológica para o homem ainda é incerta. Em algumas ocasiões foi registrada causando miíases intestinais e urinárias no homem. É cosmopolita e juntamente com a mosca doméstica é uma das espécies mais comuns no interior das residências. Os adultos têm comportamento peculiar, preferindo voar no meio do quarto, pousam em objetos suspensos, tais como fios elétricos e lustres. Cria-se em excrementos humanos e de animais, insetos mortos, matéria orgânica vegetal em decomposição (cebolas, fungos), carnes salgadas, ninhos de pássaros, etc.
Mosca das bicheiras – Cochliomyia hominivorax: ataca aparentemente qualquer animal de sangue quente, causando um tipo de miíase cutânea primária. Qualquer tipo de ferimento, umbigo de animais jovens, aberturas naturais do corpo (narinas, ouvidos, ânus, olhos e boca) podem ser infestados pela larva dessa mosca. A infestação de aberturas naturais ocorre quando há ferimentos ou extrema falta de higiene.
Mosca varejeira – Phaenicia cuprina: cosmopolita, é importante causadora de miíases em ovelhas. A larva alimenta-se da linfa que atravessa o tecido epidérmico, assim como do tecido necrótico das feridas. Os adultos são encontrados em lixo urbano, frutos caídos e néctar de flores.
Moscas Chrysomya – Chrysomya spp.: criam-se em grande número nos lixões ao redor das cidades, pocilgas, abatedouros, fossas, sépticas, etc. São vistas em grande número, nos centros urbanos de várias cidades do sudeste brasileiro, em produtos expostos nas feiras livres. Podem apresentar grande importância epidemiológica na transmissão de doenças entéricas, poliomielite e parasitas intestinais.
Mosca do berne – Dermatobia hominis: causa ao homem e animais miíases dermais, oftalmomiíases, miíases palpebrais, rinomiíases e miíases cerebrais. As lesões podem ser complicadas devido ao ataque de larvas de outras espécies de moscas. A produção de leite e carne do gado doméstico é reduzida pelo ataque dessa mosca. A indústria do couro é prejudicada, pois o couro dos animais infestados não resiste ao tratamento industrial devido às perfurações causadas pelo inseto.
As moscas atingem a maturidade de 1,5 a 4 horas após a emergência do adulto. A fêmea começa a oviposição dentro de uma semana, podendo realizar várias posturas. Os ovos são depositados no corpo de outros insetos que ocupam animais vertebrados de sangue quente e as larvas se desenvolvem cerca de uma semana depois da postura.
Mosquinhas das frutas – Drosophila spp.: conhecidas pelos geneticistas, medem 5 mm de comprimento. As larvas de algumas espécies são fungívoras e consideradas pragas de cultura de cogumelos. Na indústria de enlatados de frutas e de outros vegetais, essas mosquinhas podem causar grandes prejuízos econômicos. Grandes concentrações são encontradas próximas às indústrias de tomates, sucos de frutas, etc. O desenvolvimento larval é muito rápido, de 8 a 12 dias em condições de laboratório.
Mosca do queijo – Piophila casei: mosca preta, muito pequena, com 2,5 a 4 mm de comprimento. As fêmeas depositam seus ovos em carnes e queijos. Nos abatedouros, as larvas se desenvolvem em grande número em carnes preservadas: charques, carnes salgadas, presuntos curados, etc. Nos laticínios e armazéns se cria em queijos e outros alimentos. Os ovos demoram 1 dia para o nascimento das larvas. O ciclo biológico é de 11 a 30 dias. Foram registrados na literatura numerosos casos de miíases intestinais, produzindo intensas cólicas.
Moscas lambe olhos – Hippelates spp.: pequenas, com 1,5 a 2,5 mm de comprimento. São atraídas pelas secreções mucosas, pus, sangue nos olhos de animais e do homem. Algumas são atraídas por feridas expostas de órgãos genitais de animais domésticos.
Mosca dos esgotos – Eristalis tenax: cosmopolita, adulto com aparência de abelha. Mede 15 mm de comprimento. As larvas vivem em esgotos, excrementos líquidos, carcaças em decomposição, etc. A presença desta mosca em água estagnada é indício de alto grau de poluição. Vários casos de miíases gastro-intestinais são registrados na literatura. Adultos são florícolas e alimentam-se de pólen.
Moscas dos filtros – várias espécies: criam-se com frequência nos filtros das estações de água e esgotos. Podem ocorrer em grande quantidade nos encanamentos e ralos das residências, chegando a causar desconforto aos habitantes. Algumas espécies causam miíases.
Principais espécies de Mosquitos:
Pernilongo – Culex quinquefasciatus: adultos de coloração marrom escura ou clara, asas com escamas escuras. As larvas são aquáticas e apresentam sifão respiratório, que serve para obter o ar na superfície, e posicionam-se perpendicularmente à água, o que as diferencia dos demais gêneros. Se desenvolvem durante o ano todo. As pupas têm o aspecto de vírgula, sendo móveis quando perturbadas. Os ovos são depositados (cerca de 200) em águas poluídas e turvas ou com presença de muita matéria orgânica em decomposição. O ciclo de ovo a adulto varia de 10 a 46 dias. É uma espécie obrigatoriamente de hábitos noturnos e que ocorre durante o ano todo. Pode ser vetor da filariose bancroftiana (elefantíase) para o homem. Essa doença é causada por parasitas (carregados pelo Culex) que se alojam no sistema sanguíneo do homem, causando o inchaço característico. Brasil veiculam também o vírus Oropouche.
Mosquito da dengue – Aedes aegypti: adulto escuro, rajado de branco, com manchas prateadas nas regiões laterais do tórax e abdome e com um desenho branco em forma de lira no escudo. Suas pernas são escuras com anéis brancos. As fêmeas atacam durante o dia, com maior intensidade ao amanhecer e no início do crepúsculo. O número médio de ovos depositados pelas fêmeas é 120. A oviposição é realizada nas paredes úmidas dos volumes de água, preferencialmente acima da superfície líquida. Os ovos são resistentes à dessecação por vários meses. Seus criadouros são recipientes artificiais, como pneus, latas, vidros, calhas e ralos entupidos, pratos de vasos, bromélias, bambus cortados, ocos de árvores, caixas d’água, cisternas ou mesmo lagos artificiais, piscinas e aquários abandonados. O período de incubação dos ovos é de 2 a 3 dias. O desenvolvimento entre ovo e adulto se dá de 7 a 10 dias. Além do incômodo causado, é vetor da febre amarela urbana e dengue.
Mosquito tigre asiático – Aedes albopictus: semelhante ao A. aegypti, diferenciando-se no desenho do escudo, tendo esta espécie somente uma faixa longitudinal de escamas prateadas. As fêmeas picam preferencialmente ao amanhecer e crepúsculo do dia. Para depositar seus ovos, essa espécie prefere locais que contenham água limpa e parada. Depositam cerca de 80 ovos. O ciclo total de dias leva apenas dias. É de grande importância médica por ser vetor da dengue em áreas rurais, suburbanas e urbanas da África. No Brasil ainda não foi incriminado como vetor da dengue e outros arbovírus, mas pode se tornar uma ponte entre os ciclos silvestres e urbano de febre amarela.
Mosquito-prego ou muriçoca – Anopheles darlingi: apresenta asas cobertas por escamas de cores claras e escuras que lhe dá um aspecto manchado e seu corpo mede menos de 1 cm de comprimento. Têm hábitos crepusculares e noturnos e preferem lugares quentes e úmidos. Reproduzem-se em represas, lagos, lagoas, remansos de rios, preferindo águas profundas, límpidas, pobres de matéria orgânica. Na época das chuvas, forma novos criadouros nos alagadiços, escavações e depressões de terreno. Esse mosquito é o agente transmissor da malária.
Problemas relacionados: Possuem importância agrícola, médica e veterinária. Do ponto de vista médico, existem os mosquitos sugadores de sangue, que podem ser vetores de doenças como a malária, febre amarela, dengue, encefalite, filariose, etc. A mosca doméstica ao entrar em contato com alimentos, pode vir a transmitir tifo e disenterias, a mosquinha lambe-olhos transmite a conjuntivite. Outra mosca de grande importância, mas que não ocorre no Brasil, é a Tse-tsé, causadora da doença do sono. De importância veterinária, as moscas varejeiras, a mosca-do-berne e a mosca-do-chifre se destacam.
Medidas preventivas: colocar telas protetoras em portas e janelas, acondicionar o lixo em sacos plásticos e em recipientes apropriados e devidamente fechados; descartar lixo e materiais que possam acumular água e sirvam de criadouros desses insetos; tratar e limpar periodicamente piscinas, caixas d’água, cisternas etc, mantendo-as bem tampadas e limpar periodicamente calhas e telhados.
Métodos de controle: A constante manutenção dos ambientes utilizando-se as medidas preventivas é a melhor forma de controle de mosquitos. Podem ser utilizados repelentes de mosquitos e se for o caso, larvicidas.